O pior livro que eu tenho na minha estante
(e por que não me livro dele?)
Esses dias eu passei o olho pela milésima vez pela minha biblioteca, pensando e repensando cada volume e qual era o motivo de mantê-lo ali.
Cê vê: eu me mudei pra um apartamento bem menor ano passado.
Boa parte da minha mudança foi de caixas pequenas e pesadas repletas de livros que me deram um trabalho danado para movimentar – sem danificar – até a casa nova.
Acontece que eu não sou a mesma leitora de alguns anos atrás. Sempre li no transporte público.
Quando passei a trabalhar em home office (lá em 2017), acabei não desenvolvendo o hábito de ler em casa.
Veio a pandemia e hoje em dia eu realmente não consigo mais ler com a mesma frequência de antes.
Com o novo endereço, veio também uma nova postura interna e um desapego num nível que eu nunca tinha experimentado na vida, principalmente a respeito desses tesouros feitos de papel que eu acumulei por décadas.
“Pra quê serve o livro, afinal, Tamires?”
Eu passei a me perguntar.
Qual o motivo de mantê-lo ali, em cativeiro, fadado a nunca mais ser lido pelo mesmo par de olhos, acumulando poeira pelos cantos?
Status? Ciúme? Apego? Capital cultural? Mania?
Essa imagem, a do livro-prisioneiro e, pior ainda, a da leitora-carcereira, me deu calafrios.
Me permiti cortar essas amarras e deixá-los ir para novas casas, novos leitores, novos pares de olhos interessados e sedentos por suas histórias.
Quase como um Toy Story da vida real.
Só que com livros, alguns dos meus brinquedos favoritos. 🤧
Tem sido um processo longo e árduo, não vou mentir.
No entanto, um livro em específico eu faço questão de guardar.
O pior livro da minha estante também é o pior livro que eu já li na minha vida. O pior livro que eu já li na vida quase me fez desistir de ler. Pra sempre.
🚫 ATENÇÃO: Eu só me permito escrever este tipo de conteúdo porque seu autor já morreu.
Eu tinha 15 anos. O ano era 2003.
Leitura obrigatória da escola. Na época que o gênero “Literatura Brasileira” só tinha nas prateleiras das livrarias autores que morreram há pelo menos 50 anos 🫣
Se atreve a chutar o nome do dito cujo?
.
.
.
.
.
.
👀
.
.
.
Machado de Assis que descanse em paz e me perdoe de onde quer que esteja, mas, misericórdia, que livro ruim.
Foi uma experiência traumática e, talvez, você esteja se perguntando porque diabos eu o guardo até hoje… então vamos lá!
Eu preparei uma lista:
1) A capa é linda!
Olhar para a capa dessa edição que eu tenho me dá uma sensação agridoce. Capitu me olha de volta tão linda, tão enigmática, tão pronta para me contar seus segredos. E aí eu lembro da treta “Traiu? Não traiu?”, do final do livro, de todo o ranço que eu sinto e minha admiração pelo capista ilustrador vai dando lugar a uma vontade danada de tacá-lo pela janela. 😮💨
2) Impedir que outra pessoa sofra o mesmo trauma
Quer ler Dom Casmurro? Você que compre, aí a responsabilidade será inteira sua. Por sua conta e risco. Me recuso a emprestar.
Tem gente que fala:
“Não gostou é porque leu errado. Lê de novo!”
(Beijos, Gabriel! Kkkkkk)
Óbvio que eu li errado. Eu só tinha 15 anos! Por que o professor de literatura não botou a gente pra ler Harry Potter?
E não lerei de novo nem em um milhão de anos, nem nascendo de novo, nem que o inferno congele, nem que as vacas voem, nem que me amarrem, nem que Machado de Assis ressuscite / venha puxar meu pé de noite / saia da cova e me persiga igual zumbi / apareça pintado de ouro na minha frente pedindo por favorzinho.
Não gostou? ME PROCESSA. 🤪
3) Me lembrar de fazer escolhas inteligentes
A vida é muito curta pra ler livro ruim.
Tá lendo e tá sentindo que não tá rolando? Abandona e pega o próximo da TBR.
4) Descrever é uma delícia, mas não se empolgue!
Machado, meu amigo, descrever é uma parada maneira sim, mas PRECISAVA passar um FUCKING capítulo INTEIRO descrevendo uma FUCKING salaaaaaaAAAAAAAA???
😩
Eu perguntei e eu mesma te respondo:
Não.
Não precisava.
Foi uma morte lenta ler esse capítulo, pelamordedeus.
5) Me mantém humilde
Se Machadão que é um dos autores brasileiros mais fodásticos de todos os tempos escreveu um livro que eu odiei, quem é Tamires Romano na fila do pão da Literatura Brasileira?
Vai ter gente que não vai gostar das minhas histórias. E tá tudo bem. Dom Casmurro me lembrará pra sempre disso.
6) Faz parte da minha trajetória como leitora
Por último, mas não menos importante, sempre gosto de lembrar que: sim! Ter lido Dom Casmurro aos 15 anos fez parte da minha vida.
Tem aquela frase que diz que somos o resultado dos livros que lemos, das pessoas que convivemos e tudo aquilo que nos afeta, certo? Pois esse livro faz parte da minha história, tenha sido uma boa experiência ou não.
Seis motivos bons o suficiente para mantê-lo refém na minha estante, concorda?
Pois eu acredito que são. 😌
Agora antes de fechar o , fica porque eu tenho um
🥺 PEDIDO SOLENE 🙏🏻
Venho, por meio deste parágrafo final de artigo, fazer um pedido a todas as pessoas que lerem qualquer coisa que eu já escrevi e publiquei por aí:
Se, por acaso, a minha história / conto / artigo / legenda de foto no Instagram for a pior coisa que você já leu na vida, fica combinado, desde já, que você só vai me contar isso depois que eu morrer.
Okay? Okay.
Você tem todo o direito de odiar o que eu escrevi. Eu só não preciso ficar sabendo disso NESTA VIDA, combinado?
Então tá. Então tá bom.
Agradecida ✨
