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O pior livro que eu tenho na minha estante

(e por que não me livro dele?)

5 min readJan 16, 2024

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Esses dias eu passei o olho pela milésima vez pela minha biblioteca, pensando e repensando cada volume e qual era o motivo de mantê-lo ali.

Cê vê: eu me mudei pra um apartamento bem menor ano passado.

Boa parte da minha mudança foi de caixas pequenas e pesadas repletas de livros que me deram um trabalho danado para movimentar – sem danificar – até a casa nova.

Acontece que eu não sou a mesma leitora de alguns anos atrás. Sempre li no transporte público.

Quando passei a trabalhar em home office (lá em 2017), acabei não desenvolvendo o hábito de ler em casa.

Veio a pandemia e hoje em dia eu realmente não consigo mais ler com a mesma frequência de antes.

Com o novo endereço, veio também uma nova postura interna e um desapego num nível que eu nunca tinha experimentado na vida, principalmente a respeito desses tesouros feitos de papel que eu acumulei por décadas.

“Pra quê serve o livro, afinal, Tamires?”

Eu passei a me perguntar.

Qual o motivo de mantê-lo ali, em cativeiro, fadado a nunca mais ser lido pelo mesmo par de olhos, acumulando poeira pelos cantos?

Status? Ciúme? Apego? Capital cultural? Mania?

Essa imagem, a do livro-prisioneiro e, pior ainda, a da leitora-carcereira, me deu calafrios.

Me permiti cortar essas amarras e deixá-los ir para novas casas, novos leitores, novos pares de olhos interessados e sedentos por suas histórias.

Quase como um Toy Story da vida real.

Só que com livros, alguns dos meus brinquedos favoritos. 🤧

Tem sido um processo longo e árduo, não vou mentir.

No entanto, um livro em específico eu faço questão de guardar.

O pior livro da minha estante também é o pior livro que eu já li na minha vida. O pior livro que eu já li na vida quase me fez desistir de ler. Pra sempre.

🚫 ATENÇÃO: Eu só me permito escrever este tipo de conteúdo porque seu autor já morreu.

Eu tinha 15 anos. O ano era 2003.

Leitura obrigatória da escola. Na época que o gênero “Literatura Brasileira” só tinha nas prateleiras das livrarias autores que morreram há pelo menos 50 anos 🫣

Se atreve a chutar o nome do dito cujo?

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Machado de Assis que descanse em paz e me perdoe de onde quer que esteja, mas, misericórdia, que livro ruim.

Foi uma experiência traumática e, talvez, você esteja se perguntando porque diabos eu o guardo até hoje… então vamos lá!

Eu preparei uma lista:

1) A capa é linda!

Olhar para a capa dessa edição que eu tenho me dá uma sensação agridoce. Capitu me olha de volta tão linda, tão enigmática, tão pronta para me contar seus segredos. E aí eu lembro da treta “Traiu? Não traiu?”, do final do livro, de todo o ranço que eu sinto e minha admiração pelo capista ilustrador vai dando lugar a uma vontade danada de tacá-lo pela janela. 😮‍💨

2) Impedir que outra pessoa sofra o mesmo trauma

Quer ler Dom Casmurro? Você que compre, aí a responsabilidade será inteira sua. Por sua conta e risco. Me recuso a emprestar.

Tem gente que fala:

“Não gostou é porque leu errado. Lê de novo!”

(Beijos, Gabriel! Kkkkkk)

Óbvio que eu li errado. Eu só tinha 15 anos! Por que o professor de literatura não botou a gente pra ler Harry Potter?

E não lerei de novo nem em um milhão de anos, nem nascendo de novo, nem que o inferno congele, nem que as vacas voem, nem que me amarrem, nem que Machado de Assis ressuscite / venha puxar meu pé de noite / saia da cova e me persiga igual zumbi / apareça pintado de ouro na minha frente pedindo por favorzinho.

Não gostou? ME PROCESSA. 🤪

3) Me lembrar de fazer escolhas inteligentes

A vida é muito curta pra ler livro ruim.

Tá lendo e tá sentindo que não tá rolando? Abandona e pega o próximo da TBR.

4) Descrever é uma delícia, mas não se empolgue!

Machado, meu amigo, descrever é uma parada maneira sim, mas PRECISAVA passar um FUCKING capítulo INTEIRO descrevendo uma FUCKING salaaaaaaAAAAAAAA???

😩

Eu perguntei e eu mesma te respondo:

Não.

Não precisava.

Foi uma morte lenta ler esse capítulo, pelamordedeus.

5) Me mantém humilde

Se Machadão que é um dos autores brasileiros mais fodásticos de todos os tempos escreveu um livro que eu odiei, quem é Tamires Romano na fila do pão da Literatura Brasileira?

Vai ter gente que não vai gostar das minhas histórias. E tá tudo bem. Dom Casmurro me lembrará pra sempre disso.

6) Faz parte da minha trajetória como leitora

Por último, mas não menos importante, sempre gosto de lembrar que: sim! Ter lido Dom Casmurro aos 15 anos fez parte da minha vida.

Tem aquela frase que diz que somos o resultado dos livros que lemos, das pessoas que convivemos e tudo aquilo que nos afeta, certo? Pois esse livro faz parte da minha história, tenha sido uma boa experiência ou não.

Seis motivos bons o suficiente para mantê-lo refém na minha estante, concorda?

Pois eu acredito que são. 😌

Agora antes de fechar o

, fica porque eu tenho um

🥺 PEDIDO SOLENE 🙏🏻

Venho, por meio deste parágrafo final de artigo, fazer um pedido a todas as pessoas que lerem qualquer coisa que eu já escrevi e publiquei por aí:

Se, por acaso, a minha história / conto / artigo / legenda de foto no Instagram for a pior coisa que você já leu na vida, fica combinado, desde já, que você só vai me contar isso depois que eu morrer.

Okay? Okay.

Você tem todo o direito de odiar o que eu escrevi. Eu só não preciso ficar sabendo disso NESTA VIDA, combinado?

Então tá. Então tá bom.

Agradecida ✨

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Tamires Romano
Tamires Romano

Written by Tamires Romano

22 histórias escritas desde 2015 | editora sai da gaveta

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