A gambiarra é patrimônio imaterial do brasileiro
E isso diz muito sobre a forma como a gente pensa e age
Nossa nação verde e amarela tem muitas questões que abrem milhares de discussões e a pior delas, na minha opinião, é o “jeitinho brasileiro”. É uma linha muito tênue entre o ponto que vou abordar no artigo e a corrupção e eu não tenho dúvida de que o representante de um país é o reflexo de seu povo.
Mas não é sobre o lado negativo da nossa gente que eu vim falar hoje. Esse é um assunto para outro artigo (e nem sei se estamos preparados pra essa conversa).
Mas aaaaaah, a gambiarra.
Pra começo de conversa, eu AMO essa palavra. O puro suco da brasilidade, a ideia de consertar alguma coisa COMO DÁ 😂
Para conhecer melhor a origem da gíria, vai lá neste artigo publicado no site da Veja como parte do blog “Sobre palavras” escrito por Sérgio Rodrigues, publicado em 11 de maio de 2015 e atualizado em 31 de julho de 2020.
No começo, a palavra, que tudo indica ser derivada do italiano, nada tinha a ver com improviso ou irregularidade, mas no Brasil ganhou esse sentido de “resolver com criatividade”. É o nosso jeitinho 🤷🏻♀️😂
E aí entramos na 1ª grande premissa que a gambiarra traz às nossas vidas:
- Uma ode ao não-perfeccionismo
Consertar “como dá” significa que não vai ficar perfeito. E a gente já parte do princípio que isso está estabelecido. Senão a gente nem sai de casa. “Olha, eu até resolvo pá tu. Não é a solução ideal, mas vai cumprir o propósito”.
Show de bola, irmão!
Feito é melhor que perfeito, certo?
E essa premissa me faz pensar como foi que eu gastei tanto tempo da minha vida sendo uma perfeccionista? Eu sou brasileira, cara!!! Eu considero que sim: é melhor resolver hoje do que esperar as melhores condições e resolver sei lá quando (ou correr o risco de não resolver nunca).
- Trocar uma gambiarra por outra melhor
Quando a gente tem um mindset “Resolução de problemas”, vive procurando novas formas de fazer a mesma coisa, só que um tiquinho melhor da próxima vez.
Tipo quando você faz panqueca e a primeira sempre sai meio esquisita e feia.
“Eu sou brasileira e não desisto nunca” meio que autoriza a gente a dizer que, no fundo, somos eternos cientistas.
A tentativa e erro é a forma mais demorada de encontrar uma solução? Talvez.
Mas o fato de tentar mesmo sabendo que o resultado não será ideal/perfeito/o melhor de todos meio que diz muito sobre o nosso ímpeto de ir lá e fazer.
Inclusive, quando a gente descobre uma gambiarra que dá certo, o que a gente faz? Vai lá e compartilha com os migos 😆
Tipo a @maricids que é uma grande gostosa e postou esse reels aqui sobre fazer uma saia de carnaval sem saber costurar! Ela não achava uma saia do tamanho dela e o que ela fez? Deixou de pular carnaval? Foi com uma saia qualquer? Nooooooo.
Comprou dois metros de tecido, foi lá e fez um furo de cada lado 🤯 gênia!
E foi graças a esse reels que eu tive a ideia de escrever este artigo! Beijos, Mari!
Não ter medo de errar e saber que podemos tentar de novo devia fazer parte do hino nacional.
Pois já dizia Raul Seixas:
“Tenha fé em Deus, tenha fé na vida / tente outra vez”
Se tem uma coisa que o povo brasileiro tem é fé.
Aliás, até dizem por aí que Deus é brasileiro. Duvido nada que no sétimo dia, quando ele descansou, era domingo e ele pegou uma praia. Ficou olhando o mar e contemplando toda a sua criação. Mó vibe boa, né? ✌🏻
Então seguimos assim, resolvendo os nossos problemas com as ferramentas que temos à disposição, vendo tutorial na internet, gastando a menor quantidade de dinheiro possível e fazendo um upgrade vez ou outra (quando dá também). 🤷🏻♀️
O que me leva à nossa 3ª e última premissa sobre a nossa querida gambiarra no artigo de hoje:
- A necessidade é a mãe da criatividade
Eu não acredito que uma pessoa consegue ser criativa do nada, tipo assim “PÁ!” (e olha que eu me considero uma pessoa bastante criativa), a gente sempre tem um motivo por trás.
Um projeto, um problema pra resolver, uma moda pra inventar. E é exatamente neste momento em que aplicamos as leis da administração na nossa vida prática (fazer o melhor possível, no tempo mais ágil possível, usando os recursos que temos).
E se não temos recursos? Ah, pequeno gafanhoto, é aí que entra a gambiarra 😌
E se não temos os recursos ~ exatos ~, nada como pensar fora da caixa e usar materiais que não serviam exatamente para aquilo, com propósitos totalmente inusitados.
Como a cortina da casa de um casal de amigos meus, a Criz e o Dani:
Ao invés de comprar um varão pra sala e outro pro quarto, usaram o acabamento de um varão que eu dei pra eles pra levar na loja e comprar um cano de PVC do mesmo diâmetro. Compraram três metros de cano e conseguiram pendurar as cortinas em dois cômodos gastando pouco.
Já pensei alguma vez em usar cano de PVC como varão de cortina? Nunca. Gênios! 🤯
Nada como encontrar pessoas que não só compram suas ideias loucas e as colocam em prática como também têm suas próprias ideias meio “fora da casinha” e são adeptos do jeito gambiarra de viver. 😌
Nos Estados Unidos chamam de “life hack”, mas, vamos combinar: “gambiarra” é muito mais legal, né?
Um dia tenho certeza de que a NASA vai parar de tentar chegar em outros planetas e vai focar toda sua pesquisa aqui. O melhor do Brasil, definitivamente, é o brasileiro. 🇧🇷
